A Habitação: Características exteriores

 

A estrutura da casa dos homens é simples. A sua construção ocupa um lugar de destaque no espaço privado, sendo a casa delimitada por  muros ou cómodos. As suas dimensões falam das posses dos seus donos. As casa de primeiro andar, têm histórias de riqueza nas suas paredes. É nesta parte da habitação que define a casa (quartos, cozinha), tendo o rés-do-chão um loja ou arrecadação, onde se guardavam as arcas, salgadeira, e a talha de azeite.

O acesso à parte superior era feito por intermédio de uma escadaria que repousava no alpendre de uma água, sustentado por duas colunas de pedra. A porta, de uma folha só, com postigo, dispondo de uma janela.

Em algumas casas poderia existir o patim ou a varanda de uma ou três águas.

A estrutura habitacional mais vulgarizada dispunha-se numa planta rectangular de duas águas, com a frente orientada a sul e composta, habitualmente, pela casa de fora, dois quartos, cozinha e despensa.

As paredes erguem-se com sobreposição de pedras, unidas por uma argamassa de barro, na qual, por vezes, se juntava palha e cujo o fabrico de origem artesanal, consistia na amassadura deste produto com os pés, tarefa geralmente, confiada aos jovens.

A resistência da construção era garantida pela presença de grandes cunhais, pedras aparelhadas que se entrecruzavam erguiam os cantos.

 

Casa de Fora

A casa de fora, habitualmente de planta quadrada, era a divisão de maior volumetria e o espaço mais nobre da habitação. O sobrado ou soalho de pinho assentava em dormentes. As tábuas agulhadas de junta ou de pestana e eram bordejadas pelo rodapé em toda a extensão da parede. O tecto era forrado a pinho.

Este espaço era utilizado na altura dos baptizados e da matança , ou para receber as visitas mais cerimoniais.

Encontram-se nas paredes objectos referentes às crenças religiosas; santos. 

 

Os quartos

Eram de pequenas dimensões, um pouco mais largos do que compridos, possuindo em média 2 m2. Estas divisões eram forradas, de maneira a permitirem um maior aconchego.

O quarto de casal, o único que era iluminado por uma janela estreita, ostenta uma “cama de leito” de ferro forjado, era comum ser ofertada pelos pais da noiva. O colchão era cheio de camisas de milho desfiadas, com um ou outro carolo, que as raparigas que procediam a esta tarefa, por malandrice e folguedo, ou em alternativa, com palha de aveia. Abaixo da linha do colchão vemos um rodapé de pano branco, bordado ou com renda. Como cobertura da cama, tinham um colcha de retalhos de pano ( a chita, o ricaço, a flanela, a fazenda, o serrubeco, etc.), de linho grosseiro, tecido artesanal, ou de algodão.

O quarto contíguo era ocupado pelas filhas do casal. A cama era constituída por bancos, sobre os quais eram colocadas tábuas como estrado ao colchão de palha de aveia. Quando as raparigas eram numerosas, dormiam umas viradas para a cabeceira e outras para os pés da cama.

 

A Cozinha e a despensa

A lareira vulgarmente elevada era lajeada, sendo o seu centro coberto por tijolo burro e a sua esquina exterior formada por um barrote. A parede do fundo era protegida na zona do fogo, igualmente por tijolo burro.

A chaminé, na sua parte  interior, começava na verga, que de um lado era apoiada na parede e no outro era sustentada pelo cachorro. Na parte dianteira da verga pregavam uma tábua ligeiramente levantada, onde se pendurava a candeia e se colocava a caixa de fósforos.

O lavatório é uma peça que, por vezes, as cozinhas dispensam; quando aparece é de madeira, no seu tampo encaixa um alguidar de barro ou uma bacia de alumínio.

Completavam este mobiliário rústico uma cadeira e uma mesa de encosto com duas gavetas, onde se guardavam os garfos de ferro, as colheres de alumínio e o pão.

A ceia era a única refeição passada em casa, já que as restantes eram tomadas no campo, Na estação fria, na alimentação sobressaia a “couve naba”, os grelos e a couves, regados com azeite e acompanhados de broa e uma pinga. O conduto, quando havia, constava de poucas azeitonas, de um naco de toucinho, de umas lascas de bacalhau, de uns carapaus secos, de umas sardinhas escaladas, consoante a ocasião.

Na Primavera e na época estival, as exigências do trabalho fortaleciam os pratos. Temos as misturadas à base de couves, umas rodelas de batatas, uns bagos de arroz e uma mão cheia de feijão. O conduto pouco variava, sendo reforçado com a barrigueira e a façoila da orca ou, como alternativa, chupava-se o tutano e as poucas carnes do osso cozido que enriqueciam o caldo.

A despensa, em terra batida, dava acesso ao sótão por uma “escada de vanzos”. Nela encontramos a salgadeira, o balde dos porcos de madeira, a talha do azeite, a tábua dos queijos suspensa nos barrotes, a amassadeira, a tendeira e o cabaz do pão colocado alto, como refugio pouco acessível às tentações das crianças, as peneiras, uma rede para a farinha de milho e outras de seda par espoar a farinha de trigo, com que se obtinha a farinha e o rolão que se acrescentava à farinha de milho.

A limpeza da cozinha, e da casa em geral, era feita de forma sumária. As vassouras de giestas ou de milho painço eram de fabrico caseiro. Quando a lama era muita, raspava-se o soalho à enxada. A lavagem do soalho é, relativamente, recente e contou com grande oposição d dos homens, pois segundo estes diziam, a água era responsável pelo apodrecimento das madeiras.

Os Anexos 

A casa do forno, de telha vã e parede crua, tem a particularidade de não ter chaminé. Esta dependência

abriga o forno e respectivas alfaias, entre as quais contamos a pá de deitar o pão, o derredouro para derrer o lar do forno e o rodo para juntar, à boca, o monte das brasas.

 

A adega que podia, eventualmente, possuir reboco e guarda-pó junto ao telhado, como protecção térmica e da sujidade, tinha chão  térreo e apresentava, além da porta uma janela de iluminação e serventia para descargar as uvas. Nesta operação, o homem apoiava-se numa pedra saliente da linha da janela. De realçar, igual existência de frestas de ventilação e refrigeração.

Na adega, o patamar (lagar) era lajeado e as suas paredes laterais os guarda-vinhos, constituídos por paredes únicas, cuja dimensão era aproximadamente dois metros de comprimento por cinquenta de centímetros, e vinte centímetros de largura, sendo gateadas em chumbo.

No centro do lagar, temos a prensa de trinco que pelo movimento de vaivém do braço, vai descendo no fuso, comprimindo os malhais e a adufa sobre  o pé, resultando desta operação mecânica a extracção do vinho. O bagaço que daqui saia era seco na eira, sendo a grainha e folhelho dado aos animais, porcos e galinhas e o engaço posto no pátio para estrume. 

As cortes destinavam-se, sobretudo, às porcas criadoras. O chão era coberto de mato miúdo com a função de cama. Uma pia de pedra rústica servia de recipiente de alimentação para estes animais. Geralmente, aplicava-se um arganel ao focinho do animal evitando, assim, que este  foçasse na terra da corte. 

A eira, formato quadrado ou redondo, embora também haja eira de três cantos, era lajeada a cantaria ou simplesmente de terra batida. Este recinto era delimitado por “lajotas” espetadas no chão, quando o seu piso era de terra batida, ou por um muro coberto por lajes talhadas, no caso do piso ser empedrado.

Na eira fazia-se a debulha dos cereais e legumes. Esta operação era executada com o mangual, ao som de lengalengas ritmadas. No caso dos cereais de pragana, esta alfaia era substituída pelo trilo. Esta peço de três rolos com assento, onde se passeava a pequenada, era puxada por uma junta de vacas.

Na ausência deste utensílio usava-se uma récua de burros para pisar o cereal. 

As cisternas de água pluviais, constituíam um dos principais provimento de água potável para as pessoas desta região.

Os exemplares, notoriamente mais primitivos, apresentam uma forma circular. Estas cisternas eram escavadas na terra argilosa, originalmente um poço que recebia as diversas camadas de “pedras insossa”. A cobertura de uma água era revestida a telha de canudo. A água do telhado era aproveitada e, por vezes, do aproveitamento da água circundante se alimentava o seu bojo.