Moinhos de Vento
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“Os Moinhos de Vento, testemunho irrefutável de uma época cujo domínio era da mecânica, são hoje, mais uma riqueza patrimonial em vias de desaparecer, portanto o seu papel na transformação da matéria-prima (trigo, milho, centeio, etc.) para alimentar as populações é desempenho pelas moagens modernas, senhoras da rapidez, respondendo às necessidades dos tempos modernos. Após uma fase em que os moinhos quase desapareceram, como tudo o que passa de moda, assistiu-se ao desenvolver de esforços para a preservação dos poucos existentes “ por esse Portugal fora”. Alguns foram mesmo declarados património nacional. Turquel pode considera-se uma região rica em moinhos de vento. A sua topografia caracterizada por pequenos montes e vales, foi noutros tempos, com certeza razão para que as gentes tantos tenham edificado. Porém, as agulhas do progresso não deixaram de tecer as suas malhas, e assim, muitos foram abandonados pelos donos ou simplesmente vendidos para habitações de férias: outros sobrevivem mediante a insistência dos seus donos em recusarem sucumbir às leis do progresso. Estes , moendo só os poucos grãos que lhes são levados não dão para “ganhar algum”, por isso, os seus donos tentam outros meios de ganhar o suficiente, fabricando peças de artesanato ou simplesmente dando a visitar os seus moinhos aos muitos turistas que passam por estas bandas. E, apesar das dificuldades, dois moinhos de pura brancura, nos dias de vento favorável, exibem todo o esplendor das suas velas, os búzios assobiam e há vida ali. Turquel ainda pode dar às pessoas no presente um pouco do que foi o passado. Contudo, as coisas não parecem tão bem. No local, chamado Casal dos Moinhos, três moinhos coabitando um espaço que devia ser só seus, são prendados com aberrações que transformam uma paisagem característica de Turquel, Inspiradora de alguns quadros de pintores seus, em mais um caso típico do “deixar andar” que há muito se apoderou das gentes de Turquel. Aquele cabeço é património cultural desta terra. Como é que se pode compreender que num concelho com um nível de vida dos mais altos do pais, uma taxa de alfabetização também das mais altas, seja consentido por autoridades que dizem defensoras da preservação de casas de habitação quase em cima dos ditos moinhos?”
Jornal de Turquel, Ano 1, Nº 0, Maio de 1989 |
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MOINHOS DE VENTO EM
TURQUEL São ex-libris do Oeste Diferentes
dos da Holanda. Mas belos monstros de velas ao vento. Os moinhos de vento são uma das construções mais interessantes da nossa região. Espalhados por todo o centro e sul de Portugal, estes são muito numerosos na freguesia de Turquel, situação decorrente da escassês de curso de água permanentes, que permitissem fazer mover com regularidade os moinhos da água. As azenhas, movidas pela água dos rios, são por sua vez mais comuns no norte do pais, onde os caudais são mais numerosos e normalmente d maior volume. Por cá também existiam algumas azenhas, que na maioria dos casos, não podiam trabalhar todo o ano. As principais estavam situadas no vale de Linhares aproveitando as águas da respectiva ribeira, que se hoje tem reduzido caudal, no tempo em que as azenhas estavam em exploração, ainda levava menos água, uma vez que a mesma era no período estival aproveitava na sua quase totalidade par regar as hortas que na época floresciam nessa área. Assim havia que aproveitar a força do vento para moer os cereais, usando no fabrico do pão. ORIGENS O moinho de vento tradicional, que ainda hoje se vê nas nossas serras e colinas, parece Ter sido introduzido em Portugal pelos árabes, sendo depois copiado e aperfeiçoado pelos portugueses. Tivera, grande divulgação e foram ao longo da história objecto de leis especiais de protecção e apoio, uma vez que constituíam uma infraestrutura essencial aos hábitos alimentares do nosso povo. Entre essas leis julgo saber que «não se podia interromper ou desvariar o caminho para o moinho» (Os moinhos eram quase sempre construídos no cimo de cabaços ou colinas em que os terrenos eram públicos) e ninguém podia por lei impedir com tapadas ou outras construções a acesso ao moinho. SUPERSTIÇÕES Também, por lei, era obrigatório haver todos os moinhos uma cruz afixada em lugar bem visível. É que o moinho era considerado um engenho perigoso, sendo normalmente conotado com “artes demoníacas”. Não sei qual a razão por que lhe atribuem tal fama, mas penso que seria porque o conhecimento técnico dos nossos antepassados não lhes permita compre-enderem como um simples sopro de vento podia fazer mover uma máquina tão poderosa; entendia que só podia ser arte mágica ou diabólica!...
O ENGENHO Sobre a arquitectura dos moinhos, estes eram construídos com grosas paredes de alvenaria, e rigorosamente redondos. Têm entre quarto a seis metros de altura e embora possam aparentar serem cilíndricos, são de facto na maioria troncos de cone, uma vez que são um pouco mais estreitos na parte superior. No cimo é montada uma cúpula em forma de funil invertido, a que se chama “CAPELO”. Esta cobertura, é móvel no sentido da rotação horizontal, permitindo orientar as velas de acordo com a direcção do vento. No vértice do capelo fica montado um cata –vento, cujo eixo se prolonga para dentro do moinho, fazendo rodar um dispositivo que permite ao moleiro ver a direcção do vento sem sair do moinho. Para fazer rodar o capelo este tem na sua estrutura interna um “SARILHO” com uma corda enrolada no seu eixo, com um gancho na ponta que se prende a uma argolas fixadas em vários sítios perto do topo da parede do moinho. Apertando o sarilho, a corda estica e obriga o capelo a rodar sobre si mesmo, para a direcção conveniente. O capelo é atravessado um pouco em diagonal pelo “MASTRO” o qual se prolonga para o exterior por cerca de dois metros. Nesse prolongamento exterior, estão implantados os “BRAÇOS” em forma de cruz, onde estão fixadas (e mais ou menos enroladas) as “VELAS”. Também montados no mastro, mas um pouco mais perto da parede do moinho, estão montados uns segundos braços auxiliares, as “VERGAS”, orientados de modo a dividirem a meio o angulo formado pelos braços principais. Estes servem para ajudar a armar e esticar as velas. No interior do moinho, e fixada ao mastro há uma grande roda dentada, com dentes laterais a que chamam “ANTROZ”, os quais engrenam no “CARRETO”. Este carreto está colocado num eixo vertical bem ao centro do moinho, de forma tal que os dentes da roda dentada atingem sempre o carreto, qualquer que seja a direcção que esteja orientada o mastro. No eixo do carreto e no piso superior do moinho está instalada a “MÓ ALVEIRA”. Esta mó é d de pedra muito rija ( por vezes vinda do Norte do pais ou mesmo do estrangeiro) e roda sobre “POISO”, outra mó também de pedra rija. Destina-se este conjunto principalmente a moer trigo, donde o nome alveira, ou seja a que produz farinha para o “PÃO ALVO”. No piso inferior é montada a “MÓ SEGUNDEIRA”. Esta mó, assim como o respectivo poiso, é feita de pedra menos dura e mais vulgar ( PEDRA BROEIRA) e destina-se principalmente a moer milho, produzindo a farinha com que se fabrica a broa. Este segundo conjunto de mós não é normalmente montado directamente no eixo principal, como a mó alveira, mas sim num eixo paralelo onde o movimento lhe é transmitido por outra engrenagem ( CARRETILHA ) com um mecanismo que lhe permite ligar ou desligar o movimento da mó segundeira, Todas as rodas dentadas , eixos e dispositivos de temos vindo a descrever, eram feitos em madeira sempre rija, normalmente carvalho, sobreiro, ou azinheiro, por ar artífices especializados nesse tipo de trabalho, a quem chamavam “ENGENHEIROS”. ( hoje, engenheiros diz-se de quem tirou um curso de engenharia, aqueles eram engenheiros porque sabiam fabricar os engenhos). O saco em que o cereal era levado para o moinhos, servindo para a farinha no regresso chamava-se “TALEIGO”, era feito de pano ou de pele, sendo este de abra ou de ovelha. Os de pele, que também tinham o nome de “FOLES”, eram os melhores, porque mesmo que levassem algumas sacudidelas durante a viagem não deixavam perder o precioso pó da farinha como acontecia com os taleigos feitos de pano. O taleigo ia para o moinho cheiro de cereal, e de lá vinha também cheio de farinha para casa do freguês. Como a farinha produzida com uma da quantidade de trigo ou milho ocupa um volume maior do que o cereal em grão, essa diferença constituía o ganho do moleiro, a que se chamava “MAQUIA”. Essa era norma. Mas por vezes surgiam atritos e conflitos; Porque o saco ia mal cheio de trigo ou voltava mal cheio de farinha!... É que a desonestidade e canalhice não é exclusive dos tempos modernos. Também alguns dos nossos antepassados já se serviam dessas “artes” em seu proveito.” Jornal de Turquel, Ano 3, Numero 31, Outubro de 1993 |