Turquel – Dos primórdios aos Celtas

 

“Pouco se sabe sobre as origens da nossa terra. Concluímos, a avaliar pelas peças de barro e objectos cortantes como machados, facas e lâminas de sílex encontrados em abundantes grutas que por cá existem, sobretudo na região oriental, que nesta Zona peregrinou o homem do período Neolítico ou seja, a época da pedra polida, em que o habitante das cavernas começou a desenvolver as primeiras formas de agricultura, cerâmica, domesticarão dos primeiros animais e melhorou as suas próprias condições de vida. Isto foi há cerca de 8 000 anos.

Entretanto surgiu a Idade do Cobre, que pressupõe a vinda dos povos indo-europeus (das regiões orientais), neste caso particular da região peninsular, os designados Pré-Celtas ou Lígures. Foram encontradas lanças e machados de cobre em grutas, pelo que  mãos guerreiras e lenhadores terão actuado aqui. O bronze, uma liga mais forte, foi talvez trazido por esse marinheiros - comerciantes que demandaram as nossas costas: os Fenícios, vindos da região da Palestina.

Enfim e revolucionariamente, os Celtas, vindos do Norte, trouxeram consigo o ferro, e toda uma cultura que germinada com a dos Iberos, que já se tinham instalado, que foi a génese daquilo que nós hoje somos. Com, efeito, foram encontrados alguns objectos de bronze, ferro, um a ou outra moeda talvez fenícia (?). Não falando na influencia cristã que viria cerca de 1 500 anos depois, foi este povo que nos imprimiu seguramente o culto dos mortos.

É assim que nos apareceram sepulturas na Cancela dos Chães, nas Longras, Fonte Maceira, Chão Galego e Pedras das Antas, ao Lombo Ferreiro. Dentro de algumas pareceram objectos de barro e de uso pessoal ( argolas), fazendo crer que se acreditava na vida além-túmulo.

Foi um dos ramos dos Celtas que gerou a nossa raça: os Lusitanos. Herdámos do povo celta a arte e a imaginação, e ao mesmo tempo a técnica de construção de artefactos (charruas espadas, objectos de uso doméstico), sobretudo de bronze e ferro.

Deste povo, não herdámos  a língua, como veremos mais tarde, mas a arte e a habilidade. Tornámo-nos ferreiros, graças a eles. Talvez e está é uma hipótese aventada pelo escritor Pinho Leal, e aceito pelo ilustre turquelense José Diogo Ribeiro, a palavra Turquel provenha do termo “turruk” ou "turco”, que queria  dizer monte. O povo terá feito a metátese linguística, passando de turuco para curuto ou cruto, que ainda hoje é popularmente conhecida pelo significado de monte.

Dos celta, aprendemos a ser excêntricos, até na bebida. Por mais incrível que pareça, todos os povos do litoral europeu (portugueses, espanhóis, britânicos, franceses, alemães) são amantes da bebida alcoólica como meio de convivo, de extravasão e até de poder criativo. Os romanos que dominarão mais tarde, virão escandalizar-se por ver os celtas a beber vinho puro, visto que eles só o bebiam misturado com água.

Dos celtas aprendemos a ser tenazes, corajosos, mas ao mesmo tempo humildes e sensíveis. Captámos o humanismo que viríamos a expressar com toda a força da Época de Quinhentos, ou seja, dos Descobrimentos.”

 

In Jornal “ O Alcoa” de 21 de Novembro de 1985