“JOAQUIM
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Os mais novos já não
viveram os tempos do artista sapateiro que ia a casa do cliente tirar
medidas e fazer sapatos, botas ou botins. Assim mesmo, por medida. Tudo
trabalho manual. Em certos casos, o sapateiro transportava facas, fivelas,
novelos e outros artigos do seu mister, e fazia ali mesmo, na casa do
cliente, o calçado para a família. Na sociedade do consumismo, os produtos saem em série das fábricas para os mercados. Mas em tempos ainda não muitos distantes a música era outra. Os profissionais, os artistas, faziam os artigos manualmente. Os poucos que ainda restam hoje são considerados artesãos. Espécie cada vez mais rara, e por isso cada vez mais apreciada, nos vários ramos da actividade, os artesãos vão dando lugar à industrialização – ao artigo de série. Joaquim Moreira nasceu em Turquel, nas Eiras, há 81 anos feitos em Abril. Começou a trabalhar a arte em 1944, veio a tornar-se um industrial com seis a sete operários na sua oficina de sapataria. Era um artista. Em 1956 deixou a actividade, que era pouco rentável, e rumou a Angola. Por lá se manteve até à descolanização e à guerra subsequente, mas noutra actividade: trabalhava com uma máquina de descascar arroz. Em Setembro de 1975 regressou. Conta-nos: “Voltei à minha terra, para a minha mesma casa e tudo. Na minha longa vida nunca esqueci a minha terra.” A Arte Faz botas, mas sobretudo botins. E fá-los como ninguém. Botins em pele de vitela, por vezes em calfe. Antes de 1956 também fez bolas de Futebol. Colocámos-lhe uma questão: “Após o regresso de Angola, recomeçou de imediato com a sua arte?” Respondeu:” Não. Fiz várias coisas: transporte de água, trabalhos avulso, andei por aí aos bonecos ... Só recomecei em 1981, e desta vez sem pessoal.” Como foi? “Um dia, nesse anos de 1981, encontrei em Vila Franca de Xira, um antigo cliente meu, da Merceana, e ele disse-me: “Então você não trabalha na sua arte? Tem de recomeçar, homem! E foi assim que recomecei.” O cliente da Merceana, o Sr. Mário Nobre ( falecido há sete anos) recomeçou também a comprar-lhe. Depois continuou a trabalhar para outro cliente, a Sapataria Merceanense, para a Sapataria Matos, de Vila Franca de Xira e para outros destinos. “Agora trabalho para a Sapataria Coelho, do Carregado. Tudo por encomenda e por medida, tudo feito manualmente. Trabalho cinco dias por semana, e tenho sempre trabalho, mesmo no Verão”.
Preços Comparativamente, os preços não assustam. “Os botins que eu faço ficam entre os 19 e os 22 contos; os de fabrico industrial andam pelos 14, 15 contos”. Com um diferença, garante-nos Joaquim Moreira: “Isto é artigo de primeira. Quem compra uma vez, não fica por ai”. Compensa? O artesão diz que já compensou mais:” Só cortes e feitio (rastos, fundos) são dois dias. Cheguei a tirar nove contos e mais, por cada par. Hoje tiro sete, às vezes oito contos, mas não me queixo. Vai dando ... também, eu trabalho mais para me distrair...” Um segundo Amor “Desde 1931, tinha eu 15 anos, que pertenço à Filarmónica. Fui para Angola, e lá toquei em três Bandas: a do Grupo Cultural Recreativo e Desportivo da Cela, a do Catofe ( aqui eram todos açorianos, excepto eu) e a da Sociedade Agrícola do Cassequel. No meu regresso, voltei à Banda da minha terra, em Outubro de 1975” Quando a instrumentos, também Joaquim Moreira não se assusta: “Comecei no Trambone, fui contrabaixo agora Bombardino. Estou há seis anos à espera que me arranjem um substituto, mas não há maneira. Considero este o meu último serviço, mas começo a ficar aborrecido”. Tudo actividades em que
me estrado presente, durante anos e anos. “Não sei se há muitos com
estas actividades durante tantos anos...” Jornal de Turquel, Ano 9, Numero 64, Maio/Junho 1997. |
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