TIA CONCEIÇÃO, a arte da Tapeçaria.

Maria da Conceição Alves mais conhecida por Tia Conceição, nasceu no concelho de Porto de Mós, na localidade de Mendiga, no dia 21 de Janeiro de 1915. Filha de José Alves Amado e Emilia Narciso, herdou  de sua mãe o gosto pela tapeçaria, profissão que exerce ainda  hoje com 76 anos. Senhora com uma alegria contagiaste, com muita vida, cativa facilmente as pessoas que com ela falam. Também nos cativou a nós que a entrevistamos numa bonita tarde de Outono. Aqui fica a pequena conversa que com ela tivemos.

J.T - Como começou o seu interesse pela tapeçaria? Quem mais a influenciou?

TC.- Desde novinha que me interessei pela tapeçaria. Aprendi com a minha mãe que por sua vez já tinha aprendido com os meus avós. Havia uma certa tradição na família. Minha mãe começou a tecer cedo, meu pai construiu-lhe um tear de madeira onde eu comecei a aprender. Mais tarde quando tinha 15 anos, meu pai fez-me também um tear, muito mais moderno do que o de minha mãe. A madeira era muito boa. Aliás, é com este tear que actualmente trabalho. Gosto muito dele e veja lá, que já tem cerca de 60 anos. Meu pai também me fez outro que está actualmente na Lagoa das Talas, mas este não era tão bom porque quando o tentei transportar par aqui ( carvalhal) estragou-se todo. E foi construído depois, do que eu trabalho agora.

Foi com 15 anos que comecei a fazer trabalhos para fora. Fazia principalmente mantas de trapos tapetes e colchas que foram aliás, as primeira peças de tapeçaria que fiz. Também fazia bordados à maquina e à mão e cestas de ráfia. Foi a minha madrinha que me ensinou a faze-las quando era garota.

J.T. - Ser tecedeira é uma profissão rentável?

TC. - Naquela altura dava, agora não dá nada. O algodão está caro e não é nada fácil trabalhar com o tear, requer muita habilidade e paciência, por este e outros motivos ninguém quer esta profissão. Não é rentável naquele tempo dava, agora não.

J.T. - Existiam muitas tecedeiras naquela altura?

TC.- Sim, haviam  muitas, mas na minha terra, não fazia o que eu fazia. Aqui em Turquel não haviam muitas só me lembro de uma chamada Graça, que só fazia mantas de trapos, não fazia o que eu fazia. Eu fui a primeira não havia mais ninguém.

J.T.- Nunca ensinou a ninguém esta arte?

TC.- Sim, ensinei há muitos anos a Srª. Mª. Locaida que actualmente também faz tapetes de trapos, carpetes, etc. Mais recentemente ensinei duas pessoas da Benedita. Mas agora ninguém quer aprender a fazer tapeçaria é uma profissão muito complicada que requer muita paciência e trabalho. É preciso tecer o algodão (que é a tarefa mais fácil) depois é necessário coloca-la no tear e até começarmos a fazer o tapete ainda temos um certo trabalho. E primeiro que se aprenda é preciso ter muita paciência e principalmente cabeça. Não se aprende de um dia para o outro, leva um certo tempo.

J.T. - Quais os materiais necessários para fazer um tapete?

TC.- São necessários trapos lã e algodão. Antigamente tingia os trapos, agora as tintas não prestam por isso não vale a pena tingi-los.

J.T.-O que é ser tecedeira para si?

TC.- Para mim, ser tecedeira é uma distracção, é fazer uma coisa de que eu sempre gostei muito, e que me dá muita felicidade.

E pronto, foi esta pequena conversa que tivemos com a tia Conceição. Alem do que atrás foi dito, contou-nos também uma história engraçada do seu nome. Quando nasceu, a sua madrinha queria que se chama-se Conceição. Mas seu pai gostava de chama-la de Narcisa. E acabou por a registar de Maria Narcisa Alves, contudo sempre a chamavam de Conceição. Ela só soube que o seu verdadeiro nome era Maria Nercisa Alves quando se casou. Conta , com um sorriso que seu pai nunca a chamava de Conceição. Contou-nos também que quando sucedeu o 5 de Outubro andavam todos com muito medo que tomassem os filhos. Foi quando o registo civil, antes não havia. Por fim seu pai dizia que o 5 de Outubro foi a melhor coita que aconteceu e o registo civil também.

Ao perguntar-lhe o que sentia quando acabava um trabalho, respondeu-nos que ficava muito contente porque "é um empecilho a menos que tenho cá em casa". Disse-nos ainda que já estava velha e que a cabaça já estava cansada.

Já expôs trabalhos seus na Bendita, (Ciclo Preparatório) e também participou no "ANIMATUR 90" com trabalhos de tapeçaria, cestos de ráfia, etc.

Todos a admiram pela sua arte mas também pela sua pessoa muito divertida e simpática.

Esta entrevista foi feita em Novembro de 1990, soubemos entretanto que a ti Conceição está meia adoentada. Pelo sucedido desejados-lhe as mais rápidas melhoras para que continue a fazer o que mais gosta. São estes os votos sinceros de toda a redacção do J.T. e temos a certeza de todos os amigos (que são muitos) da tia Conceição.

As melhoras.

Jornal de Turquel, Ano 2, Numero 20, Dezembro de 1991