Lendas

 

Á semelhança de outras povoações que pertenceram aos Coutos de Alcobaça, também Turquel há marcas  de idílicas lendas mouriscas, apesar de não subsistirem vestígios reais da presença dos seguidores Corão, muito embora se lhes devam a introdução de técnicas de extracção do azeite, do regadio, da moagem, etc..

 

«No Cabeço de Turquel, a Este, próximo da Serra dos Candeeiros, conta-se que iam amiudamente duas jovens pastoras com seus rebanhos, e lhes aparecia uma moira encantada que lhes pedia que lhe trouxessem bolos sem sal ( outros dizem, azimo e outros bilhas de leite ) sendo satisfeita prontamente. Grata pelas provas de estima, a moira doou a cada uma delas um vaso de barro cuidadosamente tapado e recomendou-lhes que não o abrissem senão no fim de três luas passadas.

Um delas não se conteve, e, destapando o seu vaso, deparou com terra ( oura versão diz carvão). Aquela que dominou a sua curiosidade, abriu oportunamente o vaso, e couberam-lhe reluzentes peças de ouro»

 José D. Ribeiro, Memórias de Turquel, Braga, 1930, p.26

 

Foi sobretudo nas grutas e fontes que se gerou um misticismo popular em torno do dualismo inconciliável cristianismo / islamismo.

« A fonte da Granja situada a cerca de 2 Km a NNE da povoação compreendia em tempos uma cavidade ou uma pequena gruta hoje atilhada a Fonte da Moira encatada. Pelas manhãs de S. João foi algumas vezes surpreendida a pentear as suas longas e sedosas madeixas cor de ouro »

 José D. Ribeiro, Memórias de Turquel, Braga, 1930, p.26

 

A ermida de S. Bartholomeu foi, ao que se diz, o primeiro templo nas proximidades de Turquel.

Diz uma tradição que em tempos idos «se sepultaram em S. Bartholomeu muitos dos que sucumbiram a uma pestilência que  flagelou as populações vizinhas ( nos séculos XIII e XIV, existiam em Portugal muitas gafarias que haviam o cuidado de localizar fora dos povoados, para que melhor se pudesse evitar o contágio )» 

 José D. Ribeiro, Memórias de Turquel, Braga, 1930, p.26

 

A imagem da padroeira de Turquel também inspirou a imaginação popular.

« Ia u m menino de oito  ou nove anos, por mandado de seus pais, levar uma cabaça de vinho a uns homens que andavam trabalhando numa vinha. Era este menino aleijado e anda em duas muletas. Chegando a uma azinhaga fora  da vila, apareceu-lhe a Senhora e disse-lhe:

- Manuel larga as muletas!

Objectou o rapaz:

- Senhora, se eu sou aleijado, como as hei-de largar?

E mandando-lhe segunda vez que as deixasse, largou uma, e a outra instancoa da Senhora deixou ambas. Descobriu-lhe então a Senhora quem era, e mandou-lhe que depusesse as muletas na igreja. Foi dali o rapaz entregar aos homens o que lhe levava, os quais deram graças à Senhora da Conceição.»

José D. Ribeiro, Memórias de Turquel, Braga, 1930, p.26

A fundação da Capela do Senhor Jesus do Hospital baseia-se numa lenda externamente interessante.

O hospital de Turquel em tempos idos funcionava também como albergue deste importante Couto de Alcobaça. Conta-se que certo dia em mendigo teria pedido guarida na vila e por isso foi alojado por uma noite no local. No dia seguinte procuraram-no mas havia desaparecido sem deixar rasto...

Como sinal da sua passagem deixou, porém um crucifixo de carvão que ainda hoje se encontra exposto nesta Capela. A lenda remonta ao séc. XVIII com variadas versões. O falecido Cónego Manuel Luís, natural de Turquel defendia a tese que S. Francisco Xavier antes de embarcar para a Índia teria pernoitado no local em que a actual Capela foi construída. Descolava-se o Apóstolo das Índias da Pederneira para Santarém, o que te valor histórico e ter-se ia desviados em visita a este Couto de Alcobaça, Importante vila. Não há no entanto rigor do ponto de vista da história.