Alcobaça

 

A origem de Alcobaça como vila remonta provavelmente a época dos romanos como se poderá depreender do nome da antiga povoação “Helcobatie”.

Al-cobaxa, como foi mais tarde chamada, denota indubitavelmente a presença posterior dos árabes, ama vez que resulta da composição do artigo “al” e “cobaxa“  (carneiros) e caracteriza claramente a paisagens ao redor da vila, constituída por muitos outeiros.

Embora seja controverso, parece mais plausível a nome de Alcobaça ter origem a. denominação dos rios Coa e Baça e não o contrário, uma vezes que explicada cada e, embora por diferentes formas, a origem da palavra Alcobaça e só o assim a origern do nome daqueles dois rios.

Parece contudo, que a local da actual Alcobaça não corresponde a “Helcobatie” romana: “Podemos quando muito dizer que cerca da Vila de Alcobaça de hoje, existia uma povoação antiga, que teria sido fundada pelos romanos e por estes chamada Alcobatia". O local da antiga Alcobatie ficava a uns quatro quilómetros da actual Alcobaça e  próximo do que hoje e a povoação de Valado dos Frades. 

"Os monges, sabedores da geografia e da historia antiga, ao fundarem o seu Mosteiro, logo nos primeiros da sua história teria aparecido designação  de monasterium Alcobatie para a sua casa e este mesmo nome se teria dada a vila nascente em volta do Mosteiro “ 

Quanto ao Castelo de  Alcobaça, pensa-se que será de origem árabe, embora haja quem afirme ser  visigótico. Foi tornado por D. Afonso Henriques aos mouros, que par sua vez o reconquistaram e arrasaram, sendo posteriormente reconstruído par D. Sancho I. Diz Jorge Larcher no seu livro,  “Castelos de Portugal": "O Castelo de Alcobaça era uma grande e forte fortaleza que servia não só de abrigo seguro aos moradores dos lugares circunvizinhos, coma também de protecção aos frades do convento de Alcobaça, formando com os Castelo de Leiria, Pombal e Óbidos, urna linha avançada de defesa de Lisboa".

Teria sido precisamente a presença do Castelo naquele loca1 que levou  monges, contrariando aparentemente a regra de axetismo e isolamento do mundo exterior da ordem de Cister, a construírem o mosteiro onde hoje situa uma vez que a sua localização era originalmente pretendida era Chiqueda. 

Pouco depois da tomada aos mouros dos caste1o  de Santarém, Lisboa, Alcobaça, Alfeizerão, Afonso Henriques mandou abrir os alicerces do Mosteiro (1153). Construiu-se porém primeiramente, o recolhimento provisório de Santa Maria a Velha, obra em que se gastaram quatro anos e que se situa no local onde hoje se encontra a Igreja de N. S. da Conceição.  Foi desse recolhimento que os frades dirigiram a construção do grandioso Mosteiro para o qual transitaram em 1223 ou 1225. 

No 1.º Capítulo Geral de Cister, em 1119, consta que: "O  Mosteiro será construído,  sempre que possível seja, de ta modo que reuna dentro dos seus muros todas as coisas indispensáveis, a saber: água corrente, um moinho, uma horta, oficinas para os vários mestres, a fim de evitar que os monges tenham de ausentar-se” . Vê-se assim, que a presença e confluência dos rios Baça e Alcoa naquele local esta intimamente ligado as razões que determinaram a construção. 

Assim a Igreja do Mosteiro foi construída com a orientação Nascente - Poente, conforme os cânones do tempo cristão. Contudo, as novas construções que a ela ficaram adjacentes,  expandiram-se para os terrenos do lado, Norte, por serem estes de pendente mais suave do que os do lado Sul.  que p;  serem declivosos dificultaram  novas construções.

Como já foi dito, os monges tiveram papel de relevo no povoamento e na gestão agrária do vasto território dos Coutos. Já na última metade do século XIII, haviam desbravado e agricultado a maior parte das terras até uma légua de distância do Mosteiro. Para além das terras arrendadas e cedidas aos colonos directamente pelo Mosteiro, e sobre as quais poucas referências existem.

Destacamos, por se encontrarem total ou parcialmente dentro da área da freguesia, a Quinta dos Cidreiros, a Quinta da Gafa ( um dos antigos relegos da abadia, a do Cidral e a vastíssima cerca do Mosteiro, que ocupava parte da actual Quinta da Cova da Onça, Quinta do Lameirão, a da Conceição e a do Telheiro. Ainda no primeiro quartel do século XIX, a cerca se destinguiu pelo esmerado cultivo. Tal deve-se essencialmente à grande fertilidade do solo e à abundância de água.

Mercê da protecção dada aos foragidos pelo marco do Couto, muitos dos colonos intramuros à cerca do Mosteiro, se revelaram gentes criminosas e desordeiras, pelo que os monges se viram obrigados a mandar tal gente para outros locais. É então, que os monges propõem ao rei D. Manuel I, que se forme a vila de S. Bernardo onde hoje se localiza a aldeia da Vestiaria. Recusado o pedido pelo rei, cedem os frades parte da cerca para habitação de tal gente, recuando os seus limites, dando origem a um núcleo urbano que com  posterior desenvolvimento originou Alcobaça, a qual recebeu a categoria de Vila no ano de 1513, por foral de D. Manuel I.

A tal se refere um interessante documento de Alcobaça –“Dentro deste adro ou circuito( o da Igreja e o do Mosteiro), era o couto dos homizariados, os quais crescendo muito, atraídos pelos privilégios da comunidade, fabricando casa e causado desordem e inquietação aos monges, fizeram estes indispensável pedirem eles a providencia que lhes foi concedida por El rei D. Manuel, por alvará de 16 de Outubro de 1506, para o mesmo privilégio e Couto ser transferido para uma povoação com o titulo de Villa Nova de S. Bernardo, o que não tendo os efeitos nesta parte que era respectivo a ficarem os monges livres da imediata vizinhança de criminosos, ficou branco o terreno que estava coutado em o qual depois se fizeram muitas casas que ainda existem.”

A data do abandono do mosteiro pelos monges – 13 de Outubro de 1833 – a vila não era mais de que um pequeno aglomerado de casas e reduzido numero de habitantes, no local fronteiro ao Mosteiro e dele separado por um terreno. Esse terreno, adro da Igreja, seria usado para realização de feiras locais e viria a construir o rossio da vila. Rossio, Praça  Serpa Pinto, Praça do Conselheiro João Franco, Praça do Município, Praça Dr. Oliveira Salazar, Praça 25 de Abril. Rossio, o nome próprio de uma praça de muitos apelidos, espaço que reflecte na sua morfologia ao longo da história a diálogo entre o povo e o Mosteiro. Assim, podemos ver que:

- até à data da retirada dos monges em 1833 foi fronteira; inicialmente lugar de rotunda e depois separação entre a vilas e o Mosteiro. Essa contenção materializa-se no terreno e na sua cerca e é imposta pela dura lei da Ordem de Cister ( Ascetismo e exclusão do mundo).

- Após aquele período convulsionado, dá-se a apropriação civil dos espaços, nomeadamente das propriedades do Mosteiro que  passaram para a posse das famílias burguesas liberais influentes, incluindo as já referidas acima, ao redor e dentro da vila. O terreiro do Rossio e também apropriado à medida que o Mosteiro é reintegrado na vida urbana, ao ser usado como Teatro, Câmara Municipal, Tribunal, etc. ... De lugar de distanciamento e separação, o Rossio converte-se em local de encontro e de   ligação – passa a ser a sala de visitas da vila. Neste período, era o Rossio o domínio do peão, lugar de convívio e reunião dos alcobacences nas noites quentes de verão, especialmente quando a musica tocava.

Estas apropriação do espaço materializa-se no arvoredo existente – A alameda das amoreiras - , o coreto, bancos, iluminação pública, Jardim Escola João de Deus e o Monumento ao ilustre alcobacense que foi Manuel Vieira Natividade.

- Após a década de 30, o Rossio converte-se num espaço progressivamente dominado pelo automóvel embora houvesse a preocupação de preservar parte da função do convívio social e de lazer, como o demostra o Jardim da Altura.

- A partir do final dos anos 50, esta tendência agrava-se  e a aproximação ao Mosteiro passa a fazer-se mais em função do automobilista e não do peão. O Rossio passou a ser, e ainda é hoje, terra de ninguém, isolado da vila pelo trafego e parqueamento automóvel.

Vemos assim, que no Rossio se condensa grande parte da história de Alcobaça, pelo que o podemos considerar um lugar fulcral da Vila.

Saídos os monges de Alcobaça, foi o seu espólio partilhado pelas famílias mais influentes.

As quintas em redor da Vila e a cerca do Mosteiro passam para as suas mãos tendo esta sido destruída no decorrer dessa apropriação. Hoje quase não existe vestígios visíveis, embora se possa inferir o seu traçado pelos limites de propriedade e também através de construções mas recentes, feitas sobre alicerces anteriores.

A Vila como estrutura ou forma de existência social, surge com a extinção do Mosteiro como instituição. A sua expansão inicia-se no final do século XIX e até 1957 a um ritmo lento mas regular, segundo as linhas de desenvolvimento intimamente ligadas aos principais acessos da vila e às margens dos rios Alcoa e Baça.

Na final do século XIX, o baldio da roda, espaço de terra triangular entre a Quinta da Gafa e a Quinta da Cova da Onça, começa a ser urbanizada com pequenas moradias unifamiliares para operários.

Em 1890, “do portão da Gafa para cima “. Em Setembro de 1891, lia-se no jornal de Alcobaça: “ as edificações urbanas do Bairro da Roda vão seguindo regularmente”.

Durante apenas quatro nos surgiram três dos principais edifícios que houve nesta zona: a Praça de Touros (1889),o Hospital da Misericórdia ( 1890) e o palácio do conselheiro Ferreira da Cunha ( 1892). Destes resta-nos hoje o Hospital, tendo os outros sido demolidos nos últimos anos tal como a Capela da Senhora da Paz o havia sido em 1911.

Pouco depois, em 1915, dá-se também a demolição da Igreja Nova, existente no Rossio, e que veio a ser substituída , por dois edifícios dos correios.

A Quinta da Gafa, era ainda nos anos 30 o que fora no início do século. Adquirida em Março de 1932 pelo Município, que tem ai  a sua sede desde 1948 teve a designação de Parque Municipal, embora continuasse a ser conhecida pela Gafa, nome que provem da presença ai de uma gafara em tempos passados. O seu aproveitamento urbano começa no final da década de 40 com a transferência da Câmara Municipal, do edifício do Mosteiro para a casa do antigo proprietário. No entanto, essa ocupação só se afirma definitivamente a partir de 1962 com a  construção de vários prédios de habitação e equipamento colectivo dos quais se destaca o mercado, o parque de campismo e o  campo de Futebol. É nessa zona que se têm vindo a realizar anualmente as Feiras.

A Quinta do Lameirão, entre a Levada ( braço do Alcoa desviado pelos frades) e a Quinta da Cova da Onça era um belo jardim formado por alamedas de chorões e acácias e lugares onde a população lavava a roupa no principio do século, transformou-se hoje num aglomerado urbano que não respeitou os valores históricos como é o caso do lavadouro publico da levadinha.

A Quinta da Cova da Onça, a Quinta da Conceição, Quinta do Telheiro do lado nascente , a Quinta do Cidral, a Quinta de Nossa Senhora de Lourdes pelo lado poente, são uma vasta área de antigas granjas que ainda hoje mantém grande parte das características agrícolas do tempo dos frades e que confere o enquadramento rural do Mosteiro como centro de um vasto domino – os Coutos – sobre o qual se exercia o seu senhorio territorial, político e espiritual.

A Quinta da Fonte Nova, era ainda há poucos, uma agradável zona verde da vila, à sombra de cujas arvores os alcobacenses passavam, com o pretexto se ir buscar água à Fonte Nova, nas noites quentes de verão. O chalé desta Quinta, chalé da encarnação, existe ainda, embora bastante degradado. Hoje é um espaço crescentemente ocupado por prédios multifamiliares ( apartamentos) e moradias familiares.

Pode pois, que até à década de quarenta o desenvolvimento urbano da vila fazia-se lentamente e liminarmente segundo as quatro vias para os núcleos exteriores – Caldas, Lisboa, Nazaré, Batalha, Leiria e Rio  Maior – Santarém .

Para tal, contribui também a topografia natural – os desníveis existentes ao redor do vale – hidrografia – os rios Alcoa e Baça que puxavam o casario irradiado do mosteiro.

O afastamento entre os diversos raios de expansão e a necessidade de um aproveitamento dos terrenos disponíveis, nomeadamente os quintais, nas áreas de melhores acessibilidade, a par das pressões do mercado imobiliário e do fraco poder de controlo do município, levam pouco a pouco à dispersão. Tal dispersão inicia-se  com a construção de novas vias de ligação, que vão assim compondo o tecido urbano, modificando inicial planta em estrela e transformando-a numa planta de ruas radiocêntricas.

Com o agravamento das necessidades de expansão, nascem mais recentemente, aglomerados projectados segundo cânones urbanísticos novos, muitas vezes afectados por sucessivas alterações de critérios, em face das falta de um plano de urbanização e controlo municipal adequado. Aparece assim, uma malha urbana tipo “funcionalista” com traçado reticular, no qual o quarteirão é a unidade de planeamento.

As construções já não mergulham n cultura local, alterando o perfil urbano pela malha descomunal e apresentando fachadas que são verdadeiras intrusões visuais na paisagem urbana da vila. O crescimento deixa de se fazer por pequenos traçados passando a fazer-se por grandes conjuntos, destruindo assim os grandes emparcelamentos que constituíam as grandes quintas (loteadas para o efeito), alterando-se o metabolismo e o valor visual da paisagem envolvente da vila.

Do que acima ficou exposto se conclui que os tipos de construção mais antigos da vila são pequenos edifícios de um ou dois pisos de iniciativa individual de formação expontânea. O seu elemento agregador era a rua, a estrada o caminho e sobretudo, o Mosteiro e o Rossio.

Se por um lado encontramos na vila moradias “Chalets” com sabor romântico dos fins do século XVIII e XIX, comunemente designados por “casas dos brasileiros”, podemos também presenciar construções seguindo as directrizes do racionalismo ( originado na famosa escola de Bauhaus) que reduzem o edifício urbano a uma armação de aço e betão.

Entre estes dois casos surge uma miríade de habitações, misto de influências culturais e sociais estranhas à nossa cultura e que vão constituindo feridas na paisagem.

Os espaços exclusivamente residenciais estão a ser gradualmente afastados para áreas secundárias do núcleo da vila, ou para as áreas limítrofes uma vez que tanto o comércio como os serviços sentem necessidade de se instalarem em áreas de maior acessibilidade.

Assim à medida que a vila cresce, o seu centro tende para um lento inexorável despovoamento, um vez  que parte da habitação cede lugar ao comércio e aos serviços. Aliás constata-se claramente o modo como o Rossio está a ser dominado por bancos e comércio.

Por outro lado, mais para a periferia da vila encontramos espaços preferencialmente residenciais, os quais constam de bairros sociais de renda económica, devido aos baixos custos de construção nessa zona e também moradias unifamiliares, nas quais os seus proprietários podem usufruir de espaço de divisão livre ou panorâmica.